segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"Mais bonito", boxe feminino brasileiro é favorito ao ouro no Pan


Roseli Feitosa (à esquerda) e Adriana Araújo (à direita) partem para o Pan com esperança de medalha e vaga olímpica
Foto: CBBoxe/Divulgação


DIEGO FREIRE
Pela primeira vez disputado nos Jogos Pan-Americanos, e confirmado na Olimpíada de 2012, o boxe feminino entra no calendário das grandes competições com a expectativa de resgatar o prestígio do esporte e render medalhas de ouro para o Brasil já em Guadalajara. Na disputa masculina, o País quebrou um jejum de 44 anos sem subir ao lugar mais alto do pódio com o meio pesado Pedro Lima, no Rio de Janeiro, em 2007.
Adriana Araújo (categoria até 60 kg) e Roseli Feitosa (até 75 kg) embarcaram para o México na última quinta, acompanhadas do treinador João Carlos Barros - o mesmo da Seleção masculina da modalidade -, entre as principais favoritas do torneio.
"Treinei bastante e agora só quero a medalha de ouro", afirmou ao Terra, objetivamente, Roseli Feitosa, com a confiança de quem conquistou o primeiro título mundial do boxe amador brasileiro, pela categoria peso leve, em setembro de 2010, na cidade de Bridgetown (Barbados).
Naquela ocasião, a brasileira foi superior desde o início e derrotou a cazaque Marina Volnova por 12 a 3 na final, repetindo a tranquilidade que encontrou para passar por Muhatia Mediatri Ques (Quênia), Selma Yagci (Turquia) e Timea Nagy (Hungria) nas fases anteriores.
A façanha antecedeu o recente triunfo do meio médio ligeiro Everton Lopes, campeão do mundo no último dia 9 de outubro, em Baku (Azerbaijão), após bater o ucraniano Denys Berinchyk. "O Everton está de parabéns, mas eu ganhei primeiro", brinca Feitosa, 22 anos.
Para ela, os bons resultados não serão eventos isolados e ilustram uma melhora na estrutura do boxe brasileiro: "hoje em dia há investimento e patrocínio. Eu consigo viver apenas do boxe e treinar sem preocupações, apenas focada em conquistar bons resultados", declarou.
Roseli acredita que carrega a "missão" de conseguir mais uma medalha de ouro para aumentar o número de torneios femininos do esporte no Brasil. Baseada na história pessoal, ela sabe que há um razoável número de praticantes no País, mas ainda há carência de competitividade.
"Eu comecei meio sem querer, jogava vôlei em Osasco e tive que abandonar o esporte para estudar e trabalhar. Procurei uma luta só para para manter a forma, que é como geralmente todos fazem. Lá conheci o meu marido, mestre de muay thai e capoeira, e peguei gosto", conta.
Baiana entrou no esporte por "vingança"
"Treinei por dez anos para viver esse momento. Será a grande competição da minha carreira e estou decidida a levar o ouro para o Brasil. Estou preparada como nunca", disse, determinada, Adriana Araújo, 30 anos.
A baiana, dona de diversos ouros em disputas continentais, vê americanas e canadenses como as principais adversárias pelo pódio em Guadalajara 2011. À exemplo de Feitosa, a companheira de Seleção também buscou o boxe para manter a forma, mas admite ter seguido adiante por uma "vingança pessoal".
"Eu sempre adorei esporte e fiquei muito triste quando tiver que abandonar o futebol na categoria de base do Vitória para estudar e trabalhar. Não conseguia ficar parada e uma amiga minha me convenceu a tentar boxe. Eu comecei sem muitas pretensões, e era sparring (parceiro de treinamento de pugilistas) de um aluno do professor Rangel de Almeida. Fiquei com raiva de apanhar tanto daquele menino e resolvi me vingar, treinei muito e depois dei uma surra nele", lembra Araújo, aos risos.
Acostumada a treinar com homens, ela acredita que o boxe feminino é muitas vezes mais "bonito de se ver" do que o masculino, já que, por terem menos força, as mulheres usariam mais a técnica e a agilidade nas lutas. "Tem gente que não assiste mais boxe, que fala que o boxe anda mal, deveriam ver mais lutas femininas", recomenda.
Adriana se recorda de ter sofrido preconceito no início da carreira, quando se acostumou a ouvir que deveria "pilotar um fogão" e deixar que homens treinassem. "Felizmente a mentalidade mudou, o boxe feminino ganhou muito respeito pelos resultados e hoje é raro ouvir essas coisas, o que eu mais recebo são elogios", comemora a atleta.
As duas boxeadoras sonham com vaga na Olimpíada de Londres, em 2012, e sabem que bons resultados no Pan são fundamentais para manter a pontuação necessária no ranking mundial. Adriana espera uma disputa de alto nível em Guadalajara, mesmo com o obstáculo da altitude de cerca de 1.500 m.
"A altitude vai ser uma grande dificuldade, já tive que enfrentar em um torneio no Equador e sei como atrapalha. Mas, afinal, a altitude estará lá tanto para mim quanto para as minhas adversárias e sei que isso não é desculpa para não conseguir uma medalha. O ouro vai ser de quem focar mais", analisou Adriana Araújo, pioneira de uma modalidade que, desde as primeiras disputas, mostra o grande potencial para crescer no Brasil.

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